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Sistema informatizado de postos pode estar relacionado com agressão dentro de PA

Pâmela Rubin Matge


Foto: Gabriel Haesbaert (Arquivo Diário)
Processo permite avaliar o histórico do paciente. Secretaria aponta necessidade de melhorias

Implantado para centralizar, de forma online, informações sobre pacientes atendidos nas unidades básicas de Santa Maria, o sistema informatizado acabou envolvido em um caso de agressão envolvendo uma médica do PA da Tancredo Neves no final de abril. Elogiado por uns, por outros nem tanto, sistema apresenta falhas eventuais. E teria sido uma dessas falhas que culminou em um paciente agredido a tapas pela médica depois de ter questionado a demora no atendimento.

- A internet tem problemas em qualquer lugar, nas unidades ou em casa. Esse caso (da agressão) está sendo averiguado, mas nenhum problema de rede justifica uma postura profissional inadequada - afirmou a secretária de Saúde, Liliane Mello Duarte. 

Em um post, publicado em modo público no Facebook, uma usuária do PA da Tancredo Neves relata o que viu no dia em que ocorreu a agressão. No texto, ela relata que a médica justificou que o sistema estava fora do ar e, por isso, não poderia atender os pacientes. Baixo, um trecho do post:

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Após a agressão, a médica foi afastada temporariamente. Logo depois, entrou em laudo médico. A prefeitura aguarda o retorno da servidora do atestado de saúde para abrir uma sindicância que irá apurar os fatos. Até esta segunda-feira, a médica continuava em laudo.

ELOGIOS E CRÍTICAS

O Diário ouviu usuários e servidores da rede básica de saúde e encontrou diferentes relatos e opiniões sobre o sistema informatizado.

- O sistema só ajudou. Enviamos para a central de regulação e temos acesso a todos atendimentos do paciente. Não deixamos de trabalhar quando cai (o sistema). Só temos de preencher aqueles papéis, que provam o quão obsoletos estão - acrescenta uma das pediatras que atende no PA do Patronato Rosângela Lovato.

Uma enfermeira que não quis ter nome e local de trabalho divulgados contou que, embora a informatização tenha chegado para melhorar, carece de manutenção adequada e apresenta falhas. Quando isso acontece, ao invés de contribuir no fluxo de atendimento, prejudica as atividades. 

- (O sistema) Nem sempre salva o que estamos fazendo. Daí, tem que começar de novo. Às vezes, não é problema de internet, mas, mesmo assim, trava. Pode ficar dias com tudo funcionando, pode ter problemas quatro vezes por semana, em que ficamos horas sem mexer. Dentro da unidade não tem um técnico. Temos que avisar a administração para chamá-lo por telefone. E a gente vai falar o que para os pacientes que estão do lado de fora? Aí, demora. Tem que ser tudo manual, para passarmos para o computador quando estiver funcionando de novo. É trabalho dobrado.  

Para uma médica da UBS Wilson Paulo Noal, o sistema é imprescindível e facilita qualquer atendimento. Desde a busca pelos registros das últimas consultas e medicações até o controle de atestados. Ela menciona, porém, que quando pacientes retornam de encaminhamentos feitos pelo Husm ou Casa de Saúde, não há como consultar dados, pois, neste caso, o sistema não é compartilhado. Outra carência é uma filtragem de dados pelo Código Internacional da Doenças (CID).   

- Na medicina, cada doença tem um código, e cada paciente tem todos os dados armazenados um a um, mas não tenho um relatório cruzado. Se no meu território de atendimento eu quiser saber, por exemplo, se têm mais hipertensos ou diabéticos para desenvolver uma ação, não consigo, o sistema não permite - diz a médica.   

O sistema, que começou a ser implantado na administração anterior, está em constante evolução, conforme explica a secretária de Saúde:   

- Tem muito a melhorar, e isso vai ser no dia a dia. Quanto mais usam, mais percebemos as possibilidades de mudança e de aperfeiçoamento. O sistema é muito útil para facilitar a gestão e, com isso, ajudar no controle dos fluxo. Faremos tudo, sempre, pensando no bem estar dos pacientes.

COMO FUNCIONA 
Conforme a assessoria de comunicação da prefeitura, o Sistema Integrado da Gestão de Serviços a Saúde (SIGSS), da empresa MV Consulfarma, referido nos relatos acima, teve implantação concluída em dezembro do ano passado e segue um processo contínuo por meio de treinamentos e atualizações. As informações são de Elaine Dutra de Christo, da Coordenadoria de Tecnologia da Informação da prefeitura. 

As 22 Unidades Básicas de Saúde (UBS), cinco policlínicas, dois Pronto-Atendimentos (PAs), quatro Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) e 21 equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESFs) contam com a tecnologia. Todos os pacientes são cadastrados a partir do cartão nacional do SUS. Isso viabiliza a integração de dados, o gerenciamento de processos como prontuários eletrônicos, atendimentos e encaminhamentos, e os agendamentos de consultas.

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A busca de dados é feita pelas recepcionistas, agentes de saúde, médicos e enfermeiros, dependendo de cada atendimento. Uma vez cadastradas, as informações só precisam ser atualizadas, e o histórico de cada paciente fica armazenado para futuras consultas.

- Isso facilitou nossa vida. Hoje, a pessoa chega na recepção pela primeira vez e é cadastrada. Se é alguém que já consultou, passa para o médico e já se sabe o histórico do paciente. Lá na Secretaria de Saúde também é possível acessar os encaminhamentos feitos. Quando algum paciente reclama, por exemplo, que está há meses esperando um especialista, podemos conferir, pelo sistema, se ainda está na fila - explica a coordenadora da UBS Wilson Paulo Noal, Aline Maciel Severo.


Foto: Gabriel Haesbaert (Arquivo Diário)
Atendimento nas unidades segue demorado, mesmo após implantação de novo modelo

A INFORMATIZAÇÃO
O Sistema Integrado da Gestão de Serviços a Saúde foi implantado e está em funcionamento desde dezembro de 2017 

  • Armazena dados (nome, endereço, histórico de cada paciente)
  • Permite acompanhar agendamentos de consultas, encaminhamentos (para especialistas) e contatos feitos com pacientes
  • Permite que o médico acesse prontuários eletrônicos (descrição e observações de consultas anteriores, exames, medicações e receitas)

MELHORIAS
Servidores do município sugeriram alguns pontos que podem e que precisam ser aperfeiçoados:

  • Estabilidade do sistema
  • Ferramentas que permitam a vigilância epidemiológica e emitam relatórios para cada CID
  • Integração com o Husm e com a Casa de Saúde
  • Assistência rápida
  • Capacitações para os servidores
  • Comprometimento de profissionais que utilizam o SIGSS, em fazer o uso correto com cadastros completos

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SISTEMA AINDA TEM FALHAS
Que a substituição de pilhas de papel por registros eletrônicos por meio de um sistema chegou para somar é evidente. Mas, afinal, qual a qualidade dessa informatização da saúde no município?  

A propósito, recuperar e finalizar esse trabalho nas unidades foi promessa de campanha do prefeito Jorge Pozzobom, que, inclusive, acumulou o cargo de secretário de Saúde no primeiro semestre de sua gestão. Em fevereiro deste ano, após o Diário percorrer todas as regiões da cidade e ouvir, pelo menos, cem pessoas para saber quais gargalos do município, a saúde foi a principal queixa da população - apontada como prioridade por 63,3% dos entrevistados. Agilidade no atendimento nos serviços saúde foi uma reclamação recorrente.


Foto: Gabriel Haesbaert (Arquivo Diário)
Implantação do processo informatizado foi aprovada pelos médicos, que apontam algumas barreiras que precisam ser superadas

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